quinta-feira, 6 de dezembro de 2018


segunda-feira, 23 de julho de 2018

segunda-feira, 9 de julho de 2018


quarta-feira, 30 de maio de 2018

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Etiópia ... Os desígnios do imperialismo europeu para com a integridade territorial ...

Os desígnios do imperialismo europeu para com a integridade territorial e a independência da Etiópia não eram menos diabólicos do que aqueles que vitimaram a Libéria. Seu início remonta a 1869, ano em que um lazarista italiano, Giuseppe Sapeto, comprou a um sultão local o porto de Assab, no Mar Vermelho, pela soma de 6 mil táleres de Maria Teresa. O porto tornouse propriedade de uma companhia de navegação italiana, a Società Rubattino, e, em 1882, foi declarado colônia italiana.
Malgrado o patriotismo e a inabalável fidelidade à Igreja Ortodoxa Etíope, o imperador Yohannes, de início, interessou -se menos pela chegada dos italianos do que pela partida dos egípcios38. Estes dominavam então a maior parte das margens africanas do Mar Vermelho e do golfo de Áden, bem como o interior imediato, inclusive o porto de Massawa e a cidade de Harar. Mas o Egito, ocupado pelos ingleses em 1882, estava às voltas com a rebelião do Mahdī Muhammad Ahmad, irrompida no Sudão, que obrigou o Reino Unido a retirar dali, em 1883, as tropas egípcias e inglesas que lá se encontravam. Dessa forma, a dominação egípcia entrou em colapso em toda a região costeira do Mar Vermelho e do golfo de Áden, limítrofes à Etiópia. O Reino Unido pediu ajuda a Yohannes para evacuar tropas egípcias e europeus que se encontravam em várias cidades sudanesas sitiadas pelos mahdistas. Ao contra-almirante William Hewett, oficial inglês incumbido das negociações com o imperador, Yohannes prometeu ajuda, com a condição de que os territórios recentemente ocupados pelos egípcios na fronteira sudanesa fossem devolvidos à Etiópia, bem como o porto de Massawa.
A primeira condição foi aceita, mas, quanto a Massawa, os ingleses prometeram à Etiópia apenas o direito ao trânsito livre de mercadorias, inclusive armas e munições, “sob proteção britânica”39. O acordo foi consignado em um tratado concluído a 3 de junho de 1884, depois do que o extraordinário cabo de guerra etíope ras Alula foi libertar seis guarnições sitiadas no Sudão.
O acordo, no entanto, não durou muito. Efetivamente, a 3 de fevereiro de 1885, os italianos tomavam Massawa, sob aprovação dos ingleses. Estes favoreciam a expansão italiana, na esperança de que ela prejudicasse a dos franceses, então seus principais rivais na corrida para a África. O contra -almirante italiano Caimi, no comando da ocupação de Massawa, declarou aos habitantes que ela se dava com o consentimento da Inglaterra e do Egito e prometeu “não só respeitar a liberdade de comércio, mas fazer todo o possível para facilitá -la”.
Logo se veria que tais promessas não tinham valor algum. Os italianos impediram que armas destinadas a Yohannes fossem a ele entregues e deslocaram-se interior adentro, até as aldeias de Sahati e Wia. O ras Alula protestou contra a invasão, mas a única resposta dos italianos foi erguer fortificações nas zonas disputadas e enviar para lá reforços, os quais foram porém interceptados por Alula em Dogali, no mês de janeiro de 1887. Os invasores evacuaram então Sahati e Wia, mas, como vingança ao “massacre” de Dogali, bloquearam a costa etíope.
A guerra parecia iminente. A Itália, no entanto, receando as dificuldades de uma expedição militar em um país montanhoso como a Etiópia, apelou para a mediação do Reino Unido. Um diplomata inglês, sir Gerald Portal, foi enviado para solicitar ao imperador que concordasse com a ocupação de Sahati e Wia pelos italianos e também de Senahit ou Bagos, região que os egípcios tinham abandonado em 1884. O imperador Yohannes respondeu sem rodeios: Não farei nada disso. Pelo tratado celebrado com o almirante Hewett, toda a região que os egípcios evacuaram próxima a nossas fronteiras me foi cedida por instigação do Reino Unido. E agora deseja que eu renuncie a ela?
Irritado pelo fato de o Reino Unido mudar de posição a respeito do tratado Yohannes escreveu à rainha Victoria declarando que, se ela queria a paz, era preciso antes de tudo que os italianos ficassem no país deles e os etíopes no seu.
Em face da iminência da guerra com a Itália, para reforçar a defesa Yohannes convocou as tropas que guarneciam a fronteira sudanesa, deixando-a desprotegida.
Os mahdistas então atacaram por esse lado. O imperador acorreu a Matamma para detê-las mas, ao final de uma vitoriosa batalha travada em 10 de março de 1889, foi mortalmente atingido por uma bala perdida. A morte do imperador determinou o esfacelamento de seu exército. Houve grande confusão, especialmente no norte da Etiópia, pelo fato de vários flagelos abaterem-se ao mesmo tempo sobre o país: a peste bovina e a carestia, seguidas de epidemias de varíola e de cólera.
Durante esse período de dificuldades, os italianos avançaram rapidamente pelo interior do país. No final de 1889, ocupavam parte do planalto do norte, onde estabeleceram a colônia da Eritréia, com capital em Asmara.
Durante a brava resistência do imperador Yohannes à agressão italiana e egípcia, o governador de Shoa, Menelik, embora por princípio devesse obediência ao imperador, mantinha relações cordiais com a Itália. E emprestava grande valor a essas relações porque, por intermédio do conde Antonelli, representante italiano numa corte onde não havia outros diplomatas estrangeiros, obtinha acesso à técnica europeia. Além disso, a Itália remeteu a Shoa vários médicos e grande quantidade de armas de fogo. A amizade com a Itália também permitiu a Menelik conquistar, na qualidade de rei de Shoa (1865-1889), as ricas regiões de Arussi, Harar, Kulo e Konta, a sul e a sudeste, e Gurage e Wallaga, a sudoeste.
Já para os italianos o apoio de Menelik era útil, mas não indispensável – a longo prazo – a seus planos de expansão. A 2 de maio de 1889, menos de dois meses após a morte de Yohannes, um tratado de paz e de amizade marcava o apogeu das boas relações entre Menelik e a Itália. Foi assinado na aldeia etíope de Wuchale.
O tratado de Wuchale (Uccialli, em italiano), que devia marcar o ponto decisivo nas relações entre os dois países, continha dispositivos favoráveis a ambas as partes. Menelik reconhecia a soberania da Itália sobre a maior parte do planalto da Eritréia, abrangendo Asmara, e a Itália reconhecia Menelik como imperador – tratava -se do primeiro país a fazê -la –, prometendo -lhe o direito de importar, através da Eritréia, armas e munições. O mais importante trecho do tratado, no entanto, o artigo 17, se prestaria a contestações. Havia duas versões do tratado, uma em amárico e outra em italiano, e o artigo 17 apresentava sentido diferente em cada versão. De acordo com o texto em amárico, a Etiópia poderia recorrer à intermediação das autoridades italianas se quisesse estabelecer relações com
outros países; o texto italiano tornava esse recurso obrigatório.
Embora, de acordo com a versão italiana do tratado, a Itália pretendesse estabelecer um protetorado na Etiópia, as relações entre os dois países permaneceram boas por vários meses48. Em julho de 1889, Menelik enviou à Itália seu primo, o ras Makonnen, governador de Harar, para discutir a aplicação do tratado. Enquanto isso, sob o comando do general Baldissera, os italianos continuavam seu avanço pelo planalto da Eritréia, já pondo em prática os termos do tratado. Em 2 de agosto, Baldissera proclamou a ocupação de Asmara.
No dia 2 de outubro, em Roma, Makonnen assinou um acordo adicional: a Itália reconhecia mais uma vez o título de imperador de Menelik, enquanto este reconhecia a soberania italiana sobre a colônia do Mar Vermelho, nos limites das fronteiras que ela já possuía. Além disso, a Itália emprestaria à Etiópia 4 milhões de liras.
Quase imediatamente, porém, todo o projeto de cooperação teve de ser abandonado, pois no dia 11 de outubro o ministro das Relações Exteriores da Itália, Crispi, declarou que, “conforme o artigo 34 do tratado perpétuo [...] S. M. o rei da Etiópia aceita os bons ofícios de S. M. o rei da Itália para tudo quanto diz respeito às relações da Etiópia com outras potências ou governos”.
Embora a declaração de Crispi estivesse formulada em termos indiretos, era inequívoco que a Itália afirmava seu protetorado sobre a Etiópia. Como era de esperar, a pretensão italiana logo foi reconhecida pelas potências europeias: daí por diante, as cartas geográficas impressas na Europa passaram a designar a Etiópia pelo nome de “Abissínia italiana”. Quando, a 3 de novembro de 1889, Menelik anunciou às potências europeias que seria coroado imperador, deram-lhe a mortificante resposta de que, sendo a Etiópia um protetorado, não podiam estabelecer relações com ela a não ser por intermédio da Itália. Em 24 de março e 14 de abril de 1891, e em 5 de maio de 1894, o Reino Unido assinou com a Itália três protocolos que fixavam as fronteiras do pretenso protetorado com as colônias inglesas.
Enquanto isso, para apoio de suas pretensões, os italianos avançavam pelo norte da Etiópia, da Eritréia ao Tigre. Ultrapassaram os limites anteriormente convencionados, cruzaram o rio Mareb e ocuparam a cidade de Adowa em janeiro de 1890. Comunicaram depois ao ras Mangacha, governador da província de Tigre e filho de Yohannes, que ocupariam Adowa enquanto Menelik não aceitasse a interpretação por eles dada ao tratado de Wuchale.
Menelik recusou -se a ceder. Em 27 de setembro de 1890, escreveu ao rei Humberto I da Itália haver descoberto que as duas versões do artigo 17 possuíam sentidos diferentes.
Quando assinei esse tratado de amizade com a Itália”, dizia ele, “declarei que, como
éramos amigos, nossos assuntos na Europa poderiam ser resolvidos com a ajuda do
rei da Itália; mas disse isso para guardar nossos segredos e preservar nosso bom entendimento; não celebrei tratado algum que a isso me obrigue e, hoje em dia, não sou
homem que o aceite. Vossa Majestade compreenderá perfeitamente que um Estado soberano não precisa da ajuda de outro Estado para dirigir os seus negócios.
Decidido a não depender mais do empréstimo da Itália, Menelik começou, então, a resgatá -lo. As relações entre os dois países estavam num beco sem saída.
No decorrer dos debates que se seguiram, o representante da Itália, Antonelli, informou a Menelik que “a Itália não podia, sem quebra de sua dignidade, informar às outras potências que se havia enganado a propósito do artigo 17”.
Ao que a imperatriz Taytu, mulher de Menelik, respondeu: Nós informaremos às outras potências que esse artigo, tal qual está redigido em nossa língua, não tem o mesmo sentido que em italiano. Nós também temos de pensar em nossa dignidade. Desejais fazer passar a Etiópia como vosso protetorado, mas jamais será assim.
Ao fim de vários anos de tergiversações, durante os quais Menelik comprou, principalmente na França e na Rússia, grandes quantidades de armas de fogo e anexou, o mais das vezes pela força, Kaffa, Wolamo, Sidamo, Bale, parte de Ogaden, Gofa, Beni, Changul e terras a leste e a oeste de Boran Oromo (“Galla”), a Etiópia finalmente denunciou o tratado de Wuchale, a 12 de fevereiro de 1893. No dia 27 do mesmo mês, Menelik anunciou o fato às potências europeias e, a respeito das pretensões da Itália, em alusão a uma passagem bíblica declarou: “A Etiópia não precisa de ninguém: ela estende as mãos para Deus”. Podia permitir-se tal linguagem, já que possuía, na ocasião, 82 mil fuzis e 28 canhões.
A guerra entre italianos e etíopes eclodiu em dezembro de 1894, quando o chefe eritreu Batha Hagos se revoltou contra o domínio italiano. No início de janeiro de 1895, os italianos atacaram oras Mangacha, ocupando a maior parte de Tigre.
Menelik ordenou a mobilização a 17 de setembro, marchou para o norte com numeroso exército e conquistou importantes vitórias, a 7 de dezembro em Amba Alagi e no fim do ano em Makalle. Os italianos retiraram-se para Adowa, local onde, após alguns meses de trégua, travou-se o combate decisivo (ver figura 11.8).
A situação de Menelik era bastante boa. Podia contar com o apoio dos eritreus, cujo patriotismo fora exacerbado pelo fato de os italianos terem expropriado terras da Eritréia para instalar colonos.
Os eritreus prontificavam -se a guiar os grupos do imperador e a informá -lo sobre os movimentos do inimigo. Os italianos, em contrapartida, enfrentavam a hostilidade da população e não dispunham sequer de mapas precisos, razão por que andavam constantemente perdidos numa região que lhes era praticamente desconhecida. Não bastasse isso, o exército de Menelik contava com efetivos bem maiores: mais de 100 mil homens armados de fuzis modernos, sem contar os que portavam armas de fogo antigas ou lanças. O inimigo contava apenas com 17 mil homens, sendo 10596 italianos e os demais eritreus. Sua artilharia era ligeiramente superior à de Menelik: 56 canhões contra 40, o que entretanto não constituía vantagem decisiva.
A batalha de Adowa terminou com a estrondosa vitória de Menelik e a derrota total de seus inimigos. Durante os combates morreram 261 oficiais e 2918 suboficiais italianos, e aproximadamente 2 mil askari (soldados eritreus).
Foram dados como desaparecidos 954 soldados italianos; os feridos somavam 470, sem contar 958 askari. No total, mais de 40070 do efetivo italiano foram mortos ou feridos, com perda de 11 mil fuzis e de todos os canhões. A derrota foi praticamente completa.
Como resultado da vitória de Menelik, em 26 de outubro de 1896, os italianos assinaram o tratado de paz de Adis Abeba, que anulava o tratado de Wuchale e reconhecia a completa independência da Etiópia58. E não se sabe por que motivos Menelik não exigiu que os italianos se retirassem da Eritréia, embora houvesse por várias vezes manifestado o desejo de que a Etiópia tivesse acesso ao mar. A fronteira meridional da colônia italiana foi fixada sobre a margem do rio Mareb.
A campanha de Adowa conferiu muito prestígio a Menelik. A França e o Reino Unido enviaram missões diplomáticas para celebrar tratados com ele; os mahdistas do Sudão, o sultão do império otomano e o tzar da Rússia também mandaram embaixadas.
O resultado dessa batalha, a maior vitória de um africano contra um exército europeu desde a época de Aníbal, teve profunda influência na história das relações entre a Europa e a África. A Etiópia ganhou prestígio em toda a região do Mar Vermelho, como observou um viajante polonês, o conde Potocki, para quem os Somali mostravam -se “orgulhosos de serem da mesma raça que seus vizinhos, vitoriosos contra uma grande potência europeia”.
Intelectuais negros do Novo Mundo também manifestaram crescente interesse pela Etiópia, último Estado autóctone independente da África negra. O haitiano Benito Sylvain, um dos primeiros apóstolos do pan-africanismo, fez quatro viagens à Etiópia entre 1889 e 1906, na qualidade de mensageiro do presidente Alexis do Haiti61. E um negro norte-americano de origem cubana, William H. Ellis, esteve lá duas vezes, em 1903 e 1904, para expor diversos projetos de desenvolvimento econômico e de assentamento de negros norte-mericanos.
A influência da Etiópia chegou também à África do Sul, onde, alguns anos antes, a paráfrase da profecia bíblica de que a Etiópia estenderia as mãos para Deus tinha suscitado interesse. Em 1900 foi fundada aí uma Igreja Etíope.
Em 1911, o escritor J. E. Casely Hayford, da Costa do Ouro, deu testemunho do crescente valor da independência da Etiópia ao publicar o livro Ethiopia Unbound (Etiópia Desacorrentada) com a dedicatória “aos filhos da Etiópia do mundo inteiro”. 

http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue000324.pdf

pgs . 299 - 307

Acesso: 11/05/2018
Imperador Tewodros II, da Abissínia

Príncipe Alemayehu e o Imperador Tewodros II - Abissínia - 1868

Príncipe Alemayehu e o Imperador Tewodros II - 1868

Etiópia ... O imperador Tewodros, ou Teodoro, II (1855-1868), restaurou o antigo império da Etiópia ...

O imperador Tewodros, ou Teodoro, II (1855-1868), restaurou o antigo império da Etiópia, dividido havia mais de um século. Nos primeiros anos do seu reinado, Tewodros II refez a unidade do império reduzindo duramente à obediência os poderosos e belicosos feudatários (ras) das províncias de Tigre, Begemdir, Gojam, Simien, Wollo e Shoa, sobre os quais os imperadores fantoches de Gondar quase não tinham poder. Nessas províncias, quase todas situadas no planalto etíope, entre a Eritréia e o vale do Awash, os Agaw, os Amhara e os Tigrina constituíam a maioria da população. Estes povos pertenciam à cultura amárico-tigrina, preponderante na Etiópia, cujas principais características eram o cristianismo monofisista da Igreja Ortodoxa Etíope, o amárico e o tigrino, línguas estreitamente ligadas, uma estrutura sociopolítica “hierarquizada e mantida por pessoas investidas de grande autoridade” e a economia baseada na agricultura. Os camponeses estavam vinculados à terra e presos a uma malha – que se pode qualificar de feudal – de direitos e de serviços determinados pela propriedade do solo. 
Reunidos sob Tewodros, os Amhara e os Tigrina foram, a exemplo de Monróvia e dos outros estabelecimentos américo -liberianos na Libéria, o ponto de partida de uma expansão que englobou, na segunda metade do século XIX, as planícies circundantes habitadas por populações sobre as quais o governo imperial, por várias vezes, tinha exercido uma jurisdição “intermitente e normalmente difícil”. O núcleo formado pelos Amhara e os Tigrina, longe de ser monolítico, estava dividido politicamente por rivalidades regionais e fisicamente por montanhas e ravinas que dificultavam as comunicações e os transportes.
Tewodros esmagara os ras graças à superioridade de seu armamento, de origem estrangeira, mas foi por sua vez derrotado por uma expedição punitiva dos ingleses  em abril de 1867. Tais acontecimentos chocaram os dirigentes da Etiópia, fazendo-os compreender que necessitavam de armas modernas para dominar o império, para se defender dos adversários políticos e dos ataques dos estrangeiros. 
O sucessor de Tewodros, imperador Yohannes, ou João, IV (1871-1889), como veremos, foi obrigado a repelir os ataques dos egípcios e dos mahdistas do Sudão. Sob o reinado de Menelik II (1889-1913) (ver figura 11.3), que coincidiu com a corrida dos europeus para a África, a expansão da Etiópia continuou – com a recuperação das chamadas “regiões históricas”, sua superfície mais que duplicou.
O sistema político etíope estava então já fixado. Compreendia, essencialmente, três níveis: os distritos ou “senhorios”, as províncias e a nação; e três eixos separados: o econômico, o político e o religioso. Os senhores, os governadores e o imperador exerciam o poder no nível, respectivamente, dos distritos, das províncias e do império. Unidos por uma rede de relações hierárquicas, constituíam os pilares do sistema, já que cada um era “ao mesmo tempo chefe da administração, chefe militar, juiz e cortesão”. Regra geral, o imperador nomeava os governadores, que, por sua vez, nomeavam os senhores ou subgovernadores.
O senhor tinha certos direitos, conhecidos como gult: podia exigir um tributo em espécie de cada família do distrito e obrigar os súditos a trabalharem nas suas terras e impor -lhes outras tarefas. Guardando para si uma parte do tributo, remetia o resto a seu suserano, o governador. Adjudicava casos e contendas no distrito, convocava e comandava a milícia local e dirigia os trabalhos públicos úteis para o seu distrito; além disso, zelava para que sua “paróquia”, cujos limites costumavam coincidir com os do distrito, cumprisse suas brigações com a Igreja Ortodoxa Etíope. As contribuições e os serviços que os camponeses, vinculados à terra, base de sua subsistência, deviam aos senhores e à Igreja eram comparativamente mais leves nas províncias dos Amhara e Tigrina. Com efeito, lá as terras estavam submetidas ao sistema de rist: quase todas eram propriedade praticamente inalienável das famílias. O imperador e os governadores, portanto, não podiam distribuí-las a seus protegidos. Em compensação, as obrigações eram pesadas nas regiões do sul e do oeste conquistadas por Menelik, onde os senhores e os naftanya (literalmente, “carabineiros”, colonos do planalto da Abissínia) exploravam duramente o povo através dos direitos e obrigações gult.
O governador tinha funções análogas às do senhor, mas no nível da província.
No núcleo Amhara-Tigre, os governadores, na sua maioria, eram escolhidos entre os parentes próximos do imperador ou no meio dos nobres reputados por sua fidelidade. Nas regiões recentemente conquistadas do sul e do oeste, onde as terras eram inalienáveis, os governadores eram predominantemente nobres ou chefes militares de Amhara, Shoa, Tigre e de outras províncias do norte, que recebiam pelos serviços prestados ao imperador terras de gult (os que não eram nomeados governadores recebiam terras de rist gult). A lealdade ao governador, ou ao imperador, dependia grandemente de sua disponibilidade de terras de gult para recompensa e de um exército bastante forte para manter sua autoridade.
O imperador era o elemento mais importante do sistema imperial. Exercia funções executivas, legislativas e judiciárias, classificadas por Christopher Clapham em funções de “proteção”, “distribuição”, “direção” e “simbólicas”. Comandava em pessoa o seu exército, administrava os negócios do império, prestava justiça e protegia os seus vassalos. Por fim – e talvez fosse essa a função mais importante – era o símbolo da unidade e da independência nacionais, já que se presumia descender do rei Salomão, pelo que recebia a coroa e a unção imperial do abuna, chefe egípcio da Igreja Ortodoxa Etíope.
Faltava ao sistema imperial herdado por Tewodros um verdadeiro “corpo de funcionários”. Com a exceção de alguns cargos de funções bem definidas, como o de tsahafe t’ezaz (secretário imperial), ou de afa -negus (chefe da magistratura), eram o imperador e seus representantes regionais, os governadores e os senhores, que encarnavam a administração imperial. Tewodros desejava criar uma administração em que os governadores nobres fossem substituídos por generais do exército, de origem humilde, pagos pelo Estado, fiéis e submissos ao imperador; mas, governando sempre com rigidez, provocou revoltas em várias províncias, nas quais os novos governadores foram depostos, retomando o poder das famílias nobres.
As semelhanças entre os sistemas políticos da Libéria e da Etiópia nesta análise são demasiado evidentes para que seja necessário insistir nelas. Nos dois países se encontravam, de um lado, um núcleo político e um governo central e, de outro lado, uma zona periférica com subsistemas políticos centrados em circunscrições locais, ou aldeias, como a circunscrição de Gola, na Libéria, ou a de Oromo (“Galla”), na Etiópia, de que não tratamos neste capítulo, com subsistemas que diferiam mais ou menos do sistema central dominante. Para manter o seu domínio, ambos os sistemas concediam privilégios às regiões centrais, alimentavam relações de clientela e assimilavam as regiões periféricas. Não obstante, enquanto o regime político da Etiópia era em grande parte um regime “africano”, pois não havia partidos políticos nem parlamento – Tewodros, Yohannes e Menelik subiram ao trono graças à sua superioridade militar e não através de eleições –, o governo central da Libéria era, de todos os pontos de vista, de tipo ocidental. Seja como for, ambos possuíam ou desenvolveram meios de resistir às agressões dos europeus na época da corrida e da partilha da África. 

http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue000324.pdf

pgs. 289 - 292

Acesso: 11/05/2018

Menelik II e sua Corte

Menelik II e sua Corte

A Batalha de Adowa, ocorreu, em 01 de Março de 1896.


A Batalha de Adowa, ocorreu, em 01 de Março de 1896.
Entre a Abissínia (Etiópia) e a Itália.
Nas proximidades da cidade de Adowa, Abissínia.

Guerra Itálo-Abissina

Guerra Itálo-Abissina, conflito entre o da Reino da Itália e o Império da Abissínia (Império Etiópe) ocorreu entre dezembro de 1895 e outubro de 1896.

Batalha de Adwa


sábado, 5 de maio de 2018

Menelik II ( 1844 - 1913) - Imperador da Etiópia

Negus Negast Menelik II - Rei dos Reis - Leão da Tribo de Judah

O Imperador Menelik II, foi responsável pela modernização do exército etíope.



Guerra Ítalo-Abissina - Em 1896, a Etiópia derrotou a Itália.


A rebelião provocada pelo imposto de palhota

A rebelião provocada pelo imposto de palhota, em 1898, foi uma reação dos Temne e dos Mende de Serra Leoa, diante do reforço do domínio britânico pela nomeação de administradores de distrito, pelo desenvolvimento da força armada, pela abolição do tráfico e da escravidão, pela promulgação da lei do protetorado de 1896, que habilitava as autoridades a dispor dos terrenos baldios e, finalmente, pela imposição no protetorado de uma taxa anual de cinco xelins sobre as habitações de duas peças e de 10 xelins sobre as de maiores dimensões.

Bai Bureh (c. 1845-1908), chefe da rebelião provocada pelo imposto de palhota, em 1898.
(Desenho ao vivo executado pelo tenente H. E. Green, do 10 Regimento da África ocidental. 
(Fonte: BBC Hulton Picture Library.) 

Decidindo por unanimidade não pagar o imposto, os chefes Temne revoltaram -se contra as ordens de um deles, Bai Bureh (ver fig. 6.6). Junto com os Mende, que vieram engrossar as suas fileiras, eles representavam perto de três quartos do protetorado. Os rebeldes atacaram e pilharam feitorias, matando funcionários e soldados britânicos, bem como todos os suspeitos de colaborarcom a administração colonial. Como informa um administrador de distrito em abril de 1898, o objetivo parece ser o massacre de todos os serra -leoneses (isto é, os crioulos de Freetown) e todos os europeus, e é o que está acontecendo. Não existe mais comércio no país – pois vários comerciantes foram mortos e seus depósitos queimados.
Em maio de 1898, os exércitos rebeldes chegaram a cerca de 40 km de Freetown, e Lagos teve de despachar às pressas duas companhias de soldados para defender a
cidade.
Qual era a exata natureza dessa revolta? O governador britânico de Serra Leoa, que foi inteiramente colhido de surpresa, atribuía a revolta – assim como a resistência geral ao colonialismo, então em plena expansão – “à crescente consciência política do africano, à confiança cada vez maior no seu valor e na sua autonomia”. Segundo ele, o indígena começa a compreender a força que representa, ao ver a importância que o homem branco dá aos produtos do seu país e ao seu trabalho, de modo que o branconão poderá mais, no futuro, aproveitar -se tanto como antes da sua simplicidade e da
sua ignorância do mundo. 
A análise do governador Cardew é justa e se aplica igualmente à maior parte das rebeliões e das operações de guerrilha que a África ocidental conheceu entre fins da década de 1890 e 1914. 

http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue000324.pdf
Acesso: 05/05/2018
pgs. 160 e 161

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Nana Prempeh I (c. 1873-1931) no exílio nas Seychelles, cerca de 1908.


Nana Prempeh I (c. 1873-1931) no exílio nas Seychelles, cerca de 1908. A mulher sentada à sua direita é a famosa Nana Yaa Asantewaa, rainha de Edweso e alma da rebelião Ashanti de 1900; à esquerda de Nana Prempeh estão seus pais. (Chapa fotográfica batida em torno de 1908 por S. S. Ohashi e reproduzida em 1924 pela firma McCorquodale de Londres, para a exposição de Wembley. Foto: Susan Hopson)

Fonte: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue000324.pdf

Acesso: 27/04/2018

O país Ashanti (Costa do Ouro)

Em nenhuma outra parte da África ocidental houve tão longa tradição de luta entre os africanos e os europeus como entre os Ashanti e os britânicos na Costa do Ouro. Os conflitos surgiram por volta de 1760 e culminaram com um choque militar em 1824: os Ashanti bateram as forças britânicas e seus aliados, matando -lhes o comandante, sir Charles MacCarthy, então governador da Costa do Ouro. Dois anos mais tarde, os ingleses foram à desforra na batalha de Dodowa. Em 1850 e 1863, a guerra foi evitada por pouco, mas entre 1869 e 1872 os Ashanti lançaram um ataque triplo que redundou na ocupação de praticamente todos os Estados costeiros e meridionais da Costa do Ouro. Para rechaçar os Ashanti, o governo britânico lançou por sua vez uma das campanhas mais bem organizadas da época, sob o comando de um dos mais célebres oficiais ingleses do seu tempo, o general Garnet Wolseley. Equipados com as armas mais modernas, seus soldados conseguiram fazer recuar o exército dos Ashanti para a outra margem do rio Pra, ocupar e saquear Kumasi em fevereiro de 1874, após uma derradeira tentativa de resistência desesperada do exército Ashanti em Amoafo, perto de Bekwai.
A derrota decisiva dos Ashanti pelos britânicos, em 1874, haveria de ter graves consequências para eles, condicionando em grande medida as suas reações entre 1880 e 1920. A primeira consequência, evidentemente, foi a desintegração do império Ashanti. Pelo tratado de Fomena, os Ashanti reconheciam a independência de todos os Estados vassalos localizados ao sul do Pra. Aproveitando
a debilitação do poderio militar dos Ashanti, os Estados vassalos do norte do Volta também se separaram. Até o que ainda restava do império começava agora a esboroar. No desejo de impedir a sua restauração, os britânicos incitaram alguns dos Estados membros da União Ashanti a proclamar a sua independência, pelo que Dwaben, Kokofu, Bekwai e Nsuta começaram a desafiar o asantehene. O conflito entre Kumasi e Dwaben redundou de fato numa guerra civil, a qual terminou com a derrota de Kumasi e provocou a emigração em massa da população para o protetorado e a colônia da Costa do Ouro, que os britânicos acabavam de constituir. Além disso, o asantehene foi destituído, principalmente em função dos resultados da guerra de 1874. Com a morte de seu sucessor, ocorrida uns sete anos depois, a sucessão desencadeou uma guerra civil e somente em 1888 é que Prempeh I conseguiu impor -se como novo asantehene.
Felizmente, Prempeh se mostrou à altura da crise que o esperava. Em três anos chegou a reconstituir a União (ou Confederação Ashanti) e até convenceu o Dwaben a reintegrá -la. Alarmados por sua vez com o renascimento dos Ashanti e a concorrência francesa e alemã na região, os britânicos propuseram a eles que se colocassem sob o seu protetorado. A recusa, categórica mas polida, que Prempeh opôs à oferta vem citada em outra parte. Prempeh, em seguida, atacou e derrotou os Nkoransa, os Mo e os Abeas em 1892. Os britânicos reagiram propondo a instalação de um residente em Kumasi, em troca do pagamento de uma renda anual ao asantehene e aos principais reis dele dependentes. 
O asantehene não só rejeitou a proposta como enviou uma missão à rainha da Inglaterra, dotada de vastos poderes “para expor à (Sua) Majestade diversos problemas referentes ao bom estado do (seu) reino”. Essa missão diplomática deixou Kumasi em novembro de 1894 com um séquito de mais de 300 pessoas.
Chegou a Cape Coast em 10 de dezembro e partiu para a Inglaterra em 3 de abril de 1895. 
As autoridades britânicas não quiseram recebê-la e, antes mesmo da sua partida, instruíram o governador da costa a intimar o asantehene a que aceitasse um residente e pagasse a indenização de guerra de 50 mil onças de ouro imposta aos Ashanti em 1874. Naturalmente, o asantehene recusou dobrar-se ao ultimato, mesmo porque ainda não sabia dos resultados da missão enviada a Londres.
Os britânicos, aproveitando o pretexto da recusa, organizaram uma grande expedição contra os Ashanti, sob o comando de sir Francis Scott. Este tomou Kumasi em janeiro de 1896 sem disparar um único tiro, já que Prempeh e seus conselheiros tinham resolvido não entrar em luta com os britânicos e aceitar o seu protetorado. Prempeh, a rainha -mãe, seus tios e alguns chefes militares, não obstante, foram detidos e deportados, primeiro para Serra Leoa e depois para as Seychelles.
Por que os Ashanti decidiram não se opor, então, aos britânicos? Felizmente, dispomos da resposta do próprio Prempeh, dada por ele durante o exílio, nas Seychelles. Pressionado a combater pelos seus chefes, Prempeh começou por lhes lembrar a guerra civil em Kumasi e o papel pacificador que os britânicos tinham desempenhado na época, bem como a intervenção deles no seu acesso ao trono; depois, acrescentou: “Depois deste favor que as autoridades britânicas me fizeram, não me decido a
combater as suas tropas, mesmo que me torne prisioneiro delas. Além disso, prefiro me render, se for esse o preço da vida e da tranquilidade do meu povo e dos meus compatriotas”.
O desventurado Prempeh pensava que podia romper com a tradição e recorrer à diplomacia em vez das armas, naquela época de áspera concorrência imperialista.
Mas, levando em conta o que se tinha passado em 1874 e a incontestável superioridade militar dos britânicos, sua decisão se revelaria a mais realista, a mais sensata e a mais digna. 

http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue000324.pdf

Acesso: 27/04/2018

quinta-feira, 26 de abril de 2018

Samory Touré (1830 - 1900)


Samori Touré e os franceses

Ao contrário de Ahmadu, Samori Touré optou por uma estratégia de confronto e não de aliança. Embora recorresse igualmente à diplomacia, deu acima de tudo destaque à resistência armada. Em 1881 já tinha feito da “parte meridional as savanas sudanesas, ao longo de toda a grande floresta do oeste da África”, entre o norte da atual Serra Leoa e o rio Sassandra, na Costa do Marfim, um império unificado sob a sua incontestada autoridade.
Ao contrário do império Tukulor, o império Mandinga estava ainda numa fase ascendente em 1882, quando se deu o primeiro embate entre Samori Touré e os franceses. A conquista desta região também havia permitido a Touré criar um poderoso exército, relativamente bem equipado à europeia. Estava dividido em dois corpos: infantaria (ou sofa), que em 1887 contava com 30 mil a 35 mil homens, e cavalaria, que na mesma época não tinha mais que 3 mil homens.
A infantaria estava dividida em unidades permanentes de 10 a 20 homens, conhecidas como sé (pés) ou kulu (turmas), comandadas por um kuntigi (chefe).
Dez sé formavam um bolo (braço), colocado sob o comando de um bolokuntigi.
A cavalaria estava dividida em colunas de 50 homens, chamadas sere. Os bolo, principal força ofensiva, deslocavam -se escoltados pelos sere. Como se tratava de unidades permanentes, estabeleciam -se laços de amizade entre os soldados e de lealdade para com o chefe local e Samori Touré. Este exército, portanto, não demorou a assumir “um caráter quase nacional, em vista da sua notabilíssima homogeneidade. Mas o que sobretudo distinguia o exército de Samori era seu armamento e seu treinamento. Ao contrário da maior parte dos exércitos da África ocidental, o de Samori era praticamente constituído por profissionais armados à custa de seu chefe. Até 1876, as tropas de Samori Touré estavam equipadas com velhas espingardas, que os ferreiros locais eram capazes de consertar.
Mas, a partir de 1876, Samori Touré tratou de procurar armas europeias mais modernas, essencialmente por intermédio de Serra Leoa, para examiná -las com atenção e decidir quais as que se adaptavam melhor às suas necessidades. Foi assim que, a partir de 1885, ele resolveu substituir as espingardas, cujos cartuchos, por demais volumosos, estragavam depressa com a umidade da região, por fuzis Gras, mais bem adaptados ao clima local, com seus cartuchos mais leves, e por Kropatscheks (fuzis Gras de repetição). Ficaria fiel a esses dois modelos durante toda a década de 1880, de tal forma que acabou dispondo de turmas de ferreiros capazes de copiá-los nos menores detalhes. De 1888 em diante, também adquiriu alguns fuzis de tiro rápido e, em 1893, dispunha de cerca de 6 mil dessas armas, que empregou até a sua derrota, em 1898. Em compensação, nunca dispôs de peças de artilharia, o que constituía grave desvantagem nas suas campanhas contra os franceses. Essas armas foram adquiridas graças à venda de marfim e de ouro extraído dos velhos campos auríferos de Bure, ao sul do país, já explorados na época medieval, bem como à troca de escravos e de cavalos na região do Sahel e do Mosi. Bem equipado, o exército de Samori Touré estava igualmente bem treinado e disciplinado e caracterizava -se pelo esprit de corps e pela homogeneidade.
É evidente, então, que Samori Touré estava no ápice do seu poderio quando pela primeira vez entrou em contato com os franceses, em 1882. Em fevereiro desse ano, recebeu a visita do tenente Alakamesa, que lhe comunicou a ordem do comando supremo do Alto Senegal -Níger para que se retirasse de Kenyeran, importante mercado que barrava a Samori Touré o caminho das áreas mandinga.
Como era de esperar, Samori Touré recusou. Isso provocou um ataque de surpresa de Borghis -Desbordes, que teve de bater precipitadamente em retirada. 
O irmão de Samori, Keme Brema, atacou os franceses em Wenyarko, perto de Bamako, em abril. Embora vencedor a 2 de abril, Keme Brema foi batido dez dias mais tarde por tropas francesas bem menos importantes. Desde então, Samori Touré evitou o confronto com os franceses e dirigiu a sua ação para Kenedugu. 
Em 1885, quando Combes ocupa Bure, cujas minas de ouro eram importantes para a economia do seu império, Samori Touré compreendeu a amplitude da ameaça e resolveu desalojar os franceses pela força. Três exércitos, o de Keme Brema, o de Masara Mamadi e o dele próprio, foram encarregados da execução da tarefa. Graças a um vasto movimento de tenazes, Bure foi facilmente retomado e os franceses tiveram de sair precipitadamente para não se verem cercados. Samori Touré decidiu então cultivar relações com os britânicos de Serra Leoa. Depois de ocupar Falaba em 1884, enviou emissários a Freetown, propondo ao governador colocar todo o país sob a proteção do governo britânico. 
Tal oferta era apenas uma manobra de Samori Touré, que não pensava de forma alguma em alienar a sua soberania, mas em obrigar os franceses a respeitá -la, aliando -se a um governo poderoso.
Falhando a manobra, Samori Touré assinou com os franceses, em 28 de março de 1886, um tratado em virtude do qual aceitava recuar as suas tropas para a margem direita do Níger, embora mantendo seus direitos sobre Bure e os Mandingas de Kangaba. Em outro tratado com os franceses, assinado em 25 de março de 1887, que alterava o do ano anterior, Samori cedia a margem esquerda do rio e até aceitava colocar seu país sob o protetorado francês.
Samori Touré talvez tenha assinado este novo documento pensando que os franceses o ajudariam contra Tieba, o faama (rei) de Sikasso, que atacou em abril de 1887, com um exército de 12 mil homens. Ora, os franceses imaginavam apenas impedir qualquer aliança entre Samori Touré e Mainadou Lamine, seu adversário na ocasião. Quando Samori percebeu que, em vez de se comportarem como aliados e ajudá -lo, os franceses encorajavam a dissidência e a rebelião nas regiões recentemente subjugadas, procurando ainda impedir que ele se reabastecesse de armas em Serra Leoa, levantou o cerco em agosto de 1888 e preparou-se para o combate contra o invasor. Reorganizou o exército, concluiu em maio de 1890 com os britânicos, em Serra Leoa, um tratado que o autorizava a comprar armas modernas em quantidades cada vez maiores durante os três anos seguintes, e treinou suas tropas à moda europeia. Foram criadas seções e companhias.
No plano da tática militar resolveu optar pela defensiva. Claro, não se tratava de se pôr ao abrigo das muralhas dos tatas, pois a artilharia não lhe daria a menor possibilidade de êxito. A estratégia dele consistia em imprimir grande mobilidade às suas tropas, para melhor surpreender o inimigo, infligindo -lhe pesadas perdas antes de desaparecer. 
Archinard, que tomara Segu em março de 1890, atacou Samori em março de 1891, na esperança de o derrotar antes de entregar o comando do Alto Senegal-Níger a Humbert. Achava que, ao primeiro choque, o império de Samori Touré viria abaixo.
Mas, embora a sua ofensiva resultasse na tomada de Kankan em 7 de abril e no incêndio de Bisandugu, teve efeito contrário, pois constituiu para Samori Touré um aviso salutar que o incitou a prosseguir nas ofensivas contra os franceses em Kankan, o que lhe permitiu derrotá -los na batalha de Dabadugu, em 3 de setembro de 1891.
O principal confronto entre os franceses e Samori Touré se deu em 1892.
No desejo de pôr fim à questão, Humbert invadiu a parte central do império em janeiro de 1892, à frente de um exército de 1300 atiradores de elite e 3 mil carregadores. Samori Touré comandava em pessoa um exército de 2500 homens escolhidos para enfrentar o invasor. Embora seus homens “se batessem como diabos, defendendo pé a pé cada milímetro do terreno com feroz energia”, para repetir as palavras de Person27, Samori foi batido e Humbert tomou Bisandugu, Sanankoro e Kerwane. Salientemos, porém, que o próprio Humbert devia achar o resultado bem magro, em vista das pesadas perdas que sofreu. Além disso, Samori ordenara à população civil que abandonasse o local à chegada dos franceses.
No entanto, Samori Touré já não alimentava ilusões. Os violentos combates travados contra a coluna do coronel Humbert, que lhe haviam custado um milhar de combatentes de elite, enquanto os franceses não perderam mais que cem homens, tinham -no convencido do absurdo de outro confronto. Portanto, não lhe restava senão render-se ou retirar-se. Recusando capitular, decidiu abandonar a pátria e refugiar-se a leste, para criar aí um novo império, fora do alcance dos europeus. Prosseguindo na política de terra queimada, iniciou a marcha para leste em direção aos rios Bandama e Comoe. Se bem tivesse perdido em 1894, com a estrada de Monróvia, a última via de acesso ao fornecimento de armas modernas, nem por isso abandonou o combate. No começo de 1895, encontrou e rechaçou uma coluna francesa vinda do país Baule, sob o comando de Monteil, e, entre julho de 1895 e janeiro de 1896, ocupou o país Abron (Gyaman) e a parte ocidental de Gondja. Por essa época, já lograra formar um novo império no hinterland da Costa do Marfim e do Ashanti. Em março de 1897, seu filho Sarankenyi -Mori encontrou e bateu, perto de Wa, uma coluna britânica comandada por Henderson, enquanto o próprio Samori Touré atacava e destruía Kong em maio de 1897 e prosseguia avançando até Bobo, onde se deparou com uma coluna francesa comandada por Caudrelier.
Entalado entre os britânicos e os franceses, depois de tentar em vão malquistar uns com os outros, cedendo a estes o território de Bouna, cobiçado por aqueles, Samori Touré resolver regressar à Libéria, para junto de seus aliados Toma. Já a caminho, foi atacado de surpresa por Gouraud em Gelemu, no dia 28 de setembro de 1898. Capturado, foi deportado para o Gabão, onde morreu em 1900. Sua captura pôs termo àquilo que um historiador moderno chamou de “a mais longa série de campanhas contra o mesmo adversário em toda a história da conquista do Sudão pelos franceses”. 

http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue000324.pdf

Acesso: 26/04/2018

NJINGA, RAINHA DE ANGOLA - Indicação de Filme


Direção: Sérgio Graciano
Elenco: Ana Almeida, Miguel Hurst, Erica Chissapa mais
Gênero Histórico
Nacionalidade Angola



SINOPSE E DETALHES
Este filme narra a trajetória de uma das mais importantes mulheres africanas que marcou a história da Angola. Esta mulher é Njinga, uma guerreira africana, que durante quarenta anos lutou pela independência dos reinos de Ndongo e Matamba ao longo do século 17.




Estátua de Njinga a Mbande em Luanda,
República de Angola.
Fotografia de Erik Cleves Kristensen, 2006




Nzinga (Njinga) Ngola Mbande Ngola Kiluanji (1581 - 1663)

Nzinga (Njinga) Ngola Mbande Ngola Kiluanji (1581 - 1663)

Njinga a Mbande, Rainha do Ndongo e do Matamba (Biografia)

Njinga a Mbande (1581 - 1663), rainha do Ndongo e do Matamba, marcou a história de Angola do século XVII. Os projectos mercantis europeus, em particular de desenvolvimento do tráfico de escravos na costa da África austral, alteram a paisagem política, social e cultural do reino do Ndongo e de toda a região. Foi neste contexto que Njinga a Mbande cresceu e se impõe como um notável exemplo de governo feminino.
Em 1617, Ngola Mbande Kiluanji, rei do Ndongo, morre. O seu filho, Ngola Mbande, torna-se o novo rei.
Porém, não tem o carisma do seu pai, nem a inteligência da sua irmã Njinga a Mbande. Em 1622,
influenciado pelos portugueses, envia Njinga a Mbande como embaixadora a Luanda para negociar a
paz com Dom João Correia De Sousa, vice-rei de Portugal. Njinga revela-se então como uma negociadorae uma diplomata fora do comum.
Em 1624, Ngola Mbande morre. Njinga toma posse e torna-se rainha. Impõe-se desde logo como umasoberana de excepção. A sua táctica de guerra e de espionagem, as suas qualidades como diplomata, a
sua capacidade para tecer múltipla e estratégicas alianças, e por fim o seu conhecimento das implicaçõescomerciais e religiosas, permitir-lhe-ão opor resistência tenaz aos projectos coloniais portugueses até à sua morte em 1663.

Acesso: 26/04/2018 - http://unesdoc.unesco.org/images/0023/002309/230931por.pdf

quarta-feira, 18 de abril de 2018



No ano de 1878, Leopoldo II contratou o Henry Stanley para explorar e estabelecer uma colônia na região do Congo. 

Acordos diplomáticas resultaram na Conferência de Berlim de 1884-1885, a Partilha da África e Ásia.

Em relação aos assuntos africanos, representantes de catorze países europeus e os Estados Unidos, reconheceram Leopoldo como soberano da maior parte da área para a qual ele e Stanley haviam reinvidicado. Legitimando em 05 de fevereiro de 1885, o Estado Livre do Congo.

O Estado Livre do Congo, era equivalente a uma área 76 vezes maior do que a Bélgica.  Sendo estabelecido sob as regras pessoais e exército privado de Leopold II, a “La Force publique”.

« O ABADE — Oh ! Sire, na sua idade! O REI — Pois tente fazer o mesmo ! »


Leopoldo II era cliente da casa de sadomasoquismo "Rose Cottage", de Mary Jeffries, em Hampstead, um subúrbio de Londres.



Leopoldo II (1835-1909) - Rei da Bélgica - Genocída - Um dos maiores assassinos da história da humanidade


Ocorreu um verdadeiro genocídio, durante o regime da colônia africana de Leopoldo II, o Estado Livre do Congo, esse holocauto tornou-se um dos escândalos internacionais mais infames da virada do século XIX para o século XX. 

O relatório de 1904, escrito pelo cônsul britânico Roger Casement, levou à prisão e à punição de oficiais brancos que tinham sido responsáveis por matanças a sangue frio durante uma expedição de coleta de borracha em 1903 (incluindo um indivíduo belga que matou a tiros pelo menos 122 congoleses).

Os povos autóctones do "Congo Belga" sofreram um holocausto que causou mais mortes que os campos de extermínio da Alemanha Nazista. 



segunda-feira, 16 de abril de 2018

Vênus Negra - Legendado - Ano: 2010 - Gênero: Drama - País de Origem: França - Legenda: Português - Áudio: Francês - Duração: 162 Minutos

Filme: Batalha de Argel - Ano: 1966 (2h01min) - Direção: Gillo Pontecorvo - Elenco: Jean Martin, Yacef Saadi, Brahim Hadjadj - Gêneros: Guerra, Drama, Policial, Histórico - Nacionalidades: Argélia, Itália


Cena terrível. pai observa com muita tristeza, a mão e o pé, decepados de sua filha de 5 anos. Foto de 1904. 

Pai (Nsala) olha para a mão e o pé de sua filha de 5 anos, Boali, cortados como uma punição por não ter cumprido a cota diária de extração de borracha no Congo em 1904.




O Congo Belga foi o nome dado a partir de 15 de novembro de 1908 ao território administrado pelo Reino da Bélgica na África.

Nesta data - 15 de novembro de 1908 - o Estado Livre do Congo deixou de ser uma possessão pessoal de Leopoldo II, que a ela renunciou formalmente, sob a forte pressão internacional que se seguiu à revelação de um dos regimes coloniais mais infames da história. O Congo foi então anexado como colônia da Bélgica, passando a ser conhecido como Congo Belga.

O Congo Belga existiu até a independência do Congo, em 30 de junho de 1960, quando o país passou a se chamar República do Congo (Léopoldville).

Essa denominação permaneceu até 1º de agosto de 1964, quando foi alterada para República Democrática do Congo de maneira a se distinguir da vizinha República do Congo (conhecida como Congo-Brazzaville), o antigo Congo francês.

Em 1971, durante o governo de Mobutu Sese Seko, o país passou a se chamar República do Zaire.

A partir de 1997, após a derrubada de Mobutu, a denominação República Democrática do Congo foi restaurada, permanecendo desde então.


Foto de 1948. Zoológico humano, em Bruxelas, na Bélgica.