sexta-feira, 27 de abril de 2018

O país Ashanti (Costa do Ouro)

Em nenhuma outra parte da África ocidental houve tão longa tradição de luta entre os africanos e os europeus como entre os Ashanti e os britânicos na Costa do Ouro. Os conflitos surgiram por volta de 1760 e culminaram com um choque militar em 1824: os Ashanti bateram as forças britânicas e seus aliados, matando -lhes o comandante, sir Charles MacCarthy, então governador da Costa do Ouro. Dois anos mais tarde, os ingleses foram à desforra na batalha de Dodowa. Em 1850 e 1863, a guerra foi evitada por pouco, mas entre 1869 e 1872 os Ashanti lançaram um ataque triplo que redundou na ocupação de praticamente todos os Estados costeiros e meridionais da Costa do Ouro. Para rechaçar os Ashanti, o governo britânico lançou por sua vez uma das campanhas mais bem organizadas da época, sob o comando de um dos mais célebres oficiais ingleses do seu tempo, o general Garnet Wolseley. Equipados com as armas mais modernas, seus soldados conseguiram fazer recuar o exército dos Ashanti para a outra margem do rio Pra, ocupar e saquear Kumasi em fevereiro de 1874, após uma derradeira tentativa de resistência desesperada do exército Ashanti em Amoafo, perto de Bekwai.
A derrota decisiva dos Ashanti pelos britânicos, em 1874, haveria de ter graves consequências para eles, condicionando em grande medida as suas reações entre 1880 e 1920. A primeira consequência, evidentemente, foi a desintegração do império Ashanti. Pelo tratado de Fomena, os Ashanti reconheciam a independência de todos os Estados vassalos localizados ao sul do Pra. Aproveitando
a debilitação do poderio militar dos Ashanti, os Estados vassalos do norte do Volta também se separaram. Até o que ainda restava do império começava agora a esboroar. No desejo de impedir a sua restauração, os britânicos incitaram alguns dos Estados membros da União Ashanti a proclamar a sua independência, pelo que Dwaben, Kokofu, Bekwai e Nsuta começaram a desafiar o asantehene. O conflito entre Kumasi e Dwaben redundou de fato numa guerra civil, a qual terminou com a derrota de Kumasi e provocou a emigração em massa da população para o protetorado e a colônia da Costa do Ouro, que os britânicos acabavam de constituir. Além disso, o asantehene foi destituído, principalmente em função dos resultados da guerra de 1874. Com a morte de seu sucessor, ocorrida uns sete anos depois, a sucessão desencadeou uma guerra civil e somente em 1888 é que Prempeh I conseguiu impor -se como novo asantehene.
Felizmente, Prempeh se mostrou à altura da crise que o esperava. Em três anos chegou a reconstituir a União (ou Confederação Ashanti) e até convenceu o Dwaben a reintegrá -la. Alarmados por sua vez com o renascimento dos Ashanti e a concorrência francesa e alemã na região, os britânicos propuseram a eles que se colocassem sob o seu protetorado. A recusa, categórica mas polida, que Prempeh opôs à oferta vem citada em outra parte. Prempeh, em seguida, atacou e derrotou os Nkoransa, os Mo e os Abeas em 1892. Os britânicos reagiram propondo a instalação de um residente em Kumasi, em troca do pagamento de uma renda anual ao asantehene e aos principais reis dele dependentes. 
O asantehene não só rejeitou a proposta como enviou uma missão à rainha da Inglaterra, dotada de vastos poderes “para expor à (Sua) Majestade diversos problemas referentes ao bom estado do (seu) reino”. Essa missão diplomática deixou Kumasi em novembro de 1894 com um séquito de mais de 300 pessoas.
Chegou a Cape Coast em 10 de dezembro e partiu para a Inglaterra em 3 de abril de 1895. 
As autoridades britânicas não quiseram recebê-la e, antes mesmo da sua partida, instruíram o governador da costa a intimar o asantehene a que aceitasse um residente e pagasse a indenização de guerra de 50 mil onças de ouro imposta aos Ashanti em 1874. Naturalmente, o asantehene recusou dobrar-se ao ultimato, mesmo porque ainda não sabia dos resultados da missão enviada a Londres.
Os britânicos, aproveitando o pretexto da recusa, organizaram uma grande expedição contra os Ashanti, sob o comando de sir Francis Scott. Este tomou Kumasi em janeiro de 1896 sem disparar um único tiro, já que Prempeh e seus conselheiros tinham resolvido não entrar em luta com os britânicos e aceitar o seu protetorado. Prempeh, a rainha -mãe, seus tios e alguns chefes militares, não obstante, foram detidos e deportados, primeiro para Serra Leoa e depois para as Seychelles.
Por que os Ashanti decidiram não se opor, então, aos britânicos? Felizmente, dispomos da resposta do próprio Prempeh, dada por ele durante o exílio, nas Seychelles. Pressionado a combater pelos seus chefes, Prempeh começou por lhes lembrar a guerra civil em Kumasi e o papel pacificador que os britânicos tinham desempenhado na época, bem como a intervenção deles no seu acesso ao trono; depois, acrescentou: “Depois deste favor que as autoridades britânicas me fizeram, não me decido a
combater as suas tropas, mesmo que me torne prisioneiro delas. Além disso, prefiro me render, se for esse o preço da vida e da tranquilidade do meu povo e dos meus compatriotas”.
O desventurado Prempeh pensava que podia romper com a tradição e recorrer à diplomacia em vez das armas, naquela época de áspera concorrência imperialista.
Mas, levando em conta o que se tinha passado em 1874 e a incontestável superioridade militar dos britânicos, sua decisão se revelaria a mais realista, a mais sensata e a mais digna. 

http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue000324.pdf

Acesso: 27/04/2018

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