sábado, 5 de maio de 2018

A rebelião provocada pelo imposto de palhota

A rebelião provocada pelo imposto de palhota, em 1898, foi uma reação dos Temne e dos Mende de Serra Leoa, diante do reforço do domínio britânico pela nomeação de administradores de distrito, pelo desenvolvimento da força armada, pela abolição do tráfico e da escravidão, pela promulgação da lei do protetorado de 1896, que habilitava as autoridades a dispor dos terrenos baldios e, finalmente, pela imposição no protetorado de uma taxa anual de cinco xelins sobre as habitações de duas peças e de 10 xelins sobre as de maiores dimensões.

Bai Bureh (c. 1845-1908), chefe da rebelião provocada pelo imposto de palhota, em 1898.
(Desenho ao vivo executado pelo tenente H. E. Green, do 10 Regimento da África ocidental. 
(Fonte: BBC Hulton Picture Library.) 

Decidindo por unanimidade não pagar o imposto, os chefes Temne revoltaram -se contra as ordens de um deles, Bai Bureh (ver fig. 6.6). Junto com os Mende, que vieram engrossar as suas fileiras, eles representavam perto de três quartos do protetorado. Os rebeldes atacaram e pilharam feitorias, matando funcionários e soldados britânicos, bem como todos os suspeitos de colaborarcom a administração colonial. Como informa um administrador de distrito em abril de 1898, o objetivo parece ser o massacre de todos os serra -leoneses (isto é, os crioulos de Freetown) e todos os europeus, e é o que está acontecendo. Não existe mais comércio no país – pois vários comerciantes foram mortos e seus depósitos queimados.
Em maio de 1898, os exércitos rebeldes chegaram a cerca de 40 km de Freetown, e Lagos teve de despachar às pressas duas companhias de soldados para defender a
cidade.
Qual era a exata natureza dessa revolta? O governador britânico de Serra Leoa, que foi inteiramente colhido de surpresa, atribuía a revolta – assim como a resistência geral ao colonialismo, então em plena expansão – “à crescente consciência política do africano, à confiança cada vez maior no seu valor e na sua autonomia”. Segundo ele, o indígena começa a compreender a força que representa, ao ver a importância que o homem branco dá aos produtos do seu país e ao seu trabalho, de modo que o branconão poderá mais, no futuro, aproveitar -se tanto como antes da sua simplicidade e da
sua ignorância do mundo. 
A análise do governador Cardew é justa e se aplica igualmente à maior parte das rebeliões e das operações de guerrilha que a África ocidental conheceu entre fins da década de 1890 e 1914. 

http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue000324.pdf
Acesso: 05/05/2018
pgs. 160 e 161

Nenhum comentário:

Postar um comentário