quarta-feira, 15 de junho de 2011

O martírio de Giordano Bruno

Vestido em trapos, amarrados com força a uma estaca, o homem espera. Sua língua está atravessada por um prego e presa a uma estrutura de metal para evitar que grite uma ofensa à Santa Igreja. Sob seus pés, a pulha de lenha começa a arder. A cena terrível contrasta com o lugar de nome poético - Praça das Flores, no centro de Roma.
É o dia 17 de fevereiro de 1600. O homem que agoniza se chama Giordano Bruno e tem 52 anos. O crime, tão horrível a ponto de merecer a punição de "morte sem derramamento de sangue", ou seja, fogueira, foi ter ideias que contrariavam as dos poderosos.

Campo dé Fiori, Giordano Bruno, Roma

Em 1540, um astrônomo polonês, Nicolau Copérnico, tinha publicado um livro revolucionário. Por meio de observações e cálculos matemáticos descrevia um modelo segundo o qual o universo não girava em torno da Terra. Ao contrário, a Terra girava ao redor do Sol. Inicialmente, ninguém levou isso a sério. Giordano Bruno, algumas décadas mais tarde, se tornou seu principal defensor.
Se Copérnico insinuava que a Terra não estava no centro do Universo e girava em torno do sol, Bruno ia além. Ele declarava que mesmo o Sistema Solar não estava no centro de nada. para o italiano, o Universo era infinito, cheio de estrelas como o Sol e planetas como a Terra. Cada estrela, ele dizia, tem seus mundos. Todos cheios de vida. A Terra é só um deles.
Hoje parece difícil entender por que isso incomodou tanto. Mas imagine a quantidade de dúvidas que aquelas ideias podiam originar nos católicos. Se há vários mundos, então houve vários Cristos? Se Deus nos fez à sua imagem e semelhança, por não nos colocou no centro do Universo? Se o seu humano era criação mais importante de Deus, por que foi colocado em um lugar igual a qualquer outro do Universo? E, além de Deus, poderia existir algo infinito? A Igreja não tinha as respostas e temia que esse tipo de pergunta abalasse a fé dos cristãos.
Após oito anos de confusão, Bruno foi para a cadeia. Condenado à morte, prometeram-lhe que seria libertado se renegasse as perigosas ideias. Nunca o fez.

BURGIERMAN, Russo, 
WINTTER, Silvia Guiliartti 
e WINTTER, Othon.
Revista Superinteressante. 
São Paulo: Abril, jan. 2000. p. 42 e 44.
Texto adaptado.

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